Família comendo junto com a criança.

Terapia Alimentar Centrada na Família

Quando uma criança enfrenta dificuldades para comer ou come de forma diferente do esperado, isso impacta toda a família. A alimentação é muito mais do que simplesmente nutrir o corpo; envolve dar e receber amor, celebrar momentos, aprender, socializar, experimentar novas sensações e desenvolver habilidades essenciais.

Como clínicos, aprendemos os aspectos técnicos da alimentação, mas muitas vezes ficamos alheios a questões que são muito mais importantes para as famílias. Embora, a segurança e a nutrição são fundamentais, mas não são os únicos fatores que precisamos considerar. Para apoiar melhor as famílias que enfrentam desafios alimentares, precisamos expandir nossa visão e analisar a alimentação da criança dentro do contexto familiar e ambiental. Aplicando sempre abordagens como a terapia alimentar centrada na família.

Os pais se sentem impotentes, confusos e frustrados.

As intervenções médicas podem transformar a experiência de alimentação e vínculo, não se limitando a uma sonda ou gastrostomia. Para algumas famílias, a alimentação é um desafio constante, para outras, um item na lista de tarefas. Dessa forma, a alimentação torna-se extremamente medicalizada para os pais de crianças com distúrbios alimentares ou distúrbios da deglutição, uma vez que seguem cronogramas rígidos de alimentação por sonda ou tentam desesperadamente encontrar uma fórmula que não cause vômitos.

Para essas famílias há poucas oportunidades para aprender os sinais de fome da bebê, aconchegar-se enquanto ela comia ou compartilhar amor durante as refeições.

Portanto, para transformar essa situação, nós, fonoaudiólogos, devemos ajudar os pais a entender que o objetivo das refeições não precisa ser a quantidade exata de gramas ou calorias. Em vez disso, devemos celebrar pequenos progressos, como explorar os alimentos e colocar a colher na boca sozinha. Além disso, precisamos adaptar nossa abordagem para reconhecer a importância dessas pequenas vitórias no desenvolvimento das habilidades alimentares da criança.

A alimentação se desenvolve no contexto das relações.

A abordagem terapêutica centrada na família e na alimentação responsiva é fundamental, uma vez que a alimentação se desenvolve dentro do contexto das relações. O objetivo da terapia alimentar não deve ser simplesmente “fazer” a criança comer. Em vez disso, devemos colaborar com os cuidadores para apoiar a autonomia, a motivação interna e a capacidade de aprendizado da criança. Oferecemos oportunidades e deixamos a criança nos mostrar o que funciona para ela naquele momento. A terapia deve ser centrada na família e em uma alimentação consciente e responsiva!

E ao se deparar com essa constatação muitas famílias me questionam:

Como garantir que, ao seguir esse caminho, a criança realmente irá aprender a comer de forma saudável e satisfatória?

A resposta está em compreender que a alimentação é um processo contínuo de aprendizado. Ao apoiar a autonomia e a motivação interna da criança, criamos um ambiente de confiança e segurança, essencial para o desenvolvimento das habilidades alimentares. Oferecendo uma variedade de alimentos e permitindo que a criança explore e descubra o que funciona para ela, promovemos não apenas uma relação saudável com a comida, mas também encorajamos a curiosidade e a independência. Quando a criança se sente segura e não pressionada, está mais disposta a experimentar novos sabores e texturas, desenvolvendo gradualmente hábitos alimentares saudáveis e satisfatórios.

Terapia alimentar centrada na família e os 4 Cs da alimentação:

O objetivo da terapia alimentar é alcançar os 4Cs da alimentação: conforto, conexão, confiança e competência — habilidades essenciais para criar um ambiente positivo e eficaz durante as refeições, especialmente para crianças com dificuldades alimentares.

Conforto refere-se à ausência de dores e desconfortos físicos que possam interferir na alimentação, englobando desde problemas gastrointestinais até a escolha de uma cadeira adequada que ofereça suporte e segurança durante a refeição.

Conexão diz respeito ao vínculo que a criança estabelece com a comida. Portanto, isso inclui o interesse e a curiosidade da criança pelos alimentos, permitindo-lhe explorar, experimentar e se familiarizar com diferentes texturas e sabores. A conexão com a comida é crucial para desenvolver uma atitude positiva em relação à alimentação e promover a aceitação de novos alimentos.

Confiança refere-se à confiança que a criança deposita em quem a alimenta. A criança precisa sentir que a pessoa responsável pela alimentação é confiável e compreende suas necessidades. Isso exige que o cuidador seja paciente, consistente e sensível às reações da criança, criando um ambiente onde a criança se sinta segura e apoiada.

Competência envolve proporcionar à criança a oportunidade de aprender e praticar habilidades alimentares. Isso inclui permitir que ela explore diferentes texturas e sabores e apoiar seu desenvolvimento gradual na alimentação independente.

Logo, ao focar nesses quatro aspectos, podemos ajudar a criança a ter uma experiência alimentar positiva e construtiva, promovendo seu desenvolvimento saudável e sua autonomia.

5 respostas para “Terapia Alimentar Centrada na Família”

  1. Avatar de Nathalie
    Nathalie

    Aspectos muito interessantes de serem observados. A partir dessa leitura percebo que preciso rever alguns detalhes na ia do meu bebê.
    Obrigada por se dedicar tanto.

    1. Avatar de anakoerichh

      Fico muito contente com o seu retorno! Meu objetivo é ajudar.

  2. Avatar de Ana Paula Koppicz
    Ana Paula Koppicz

    Leitura gostosa com muito conhecimento.. Seguimos com uma alimentação respeitosa!

  3. Avatar de Ana Paula Koppicz
    Ana Paula Koppicz

    Leitura gostosa com muito conhecimento.. Seguimos com uma alimentação respeitosa!

    1. Avatar de anakoerichh

      Obrigada, Ana! Estou sempre a disposição de vocês.